domingo, 11 de setembro de 2016

Conhecendo o Amazonas – Parte 3/3: Novo Airão e “Mirante do Gavião Amazon Lodge”

Ao planejar nossa primeira viagem ao Norte do País, nós pensamos: “Estaremos em Manaus, porta de entrada da Floresta Amazônica, que tal abandonarmos um pouco a cidade e adentrarmos na mata?”. E foi assim que surgiu a ideia de nos hospedarmos num hotel de selva.
Como não desejávamos abrir mão de um mínimo de conforto (ar condicionado, banho quente e cama limpa e macia), nosso agente de viagens indicou o “Mirante do Gavião Amazon Lodge”, localizado no município de Novo Airão, a 180 km da capital amazonense. Um hotel lindo, na margem do Rio Negro, com uma arquitetura moderna e sustentável, que, utilizando predominantemente madeira-de-lei na sua construção, acabou sendo integrado à paisagem natural do local.







Confesso que, num primeiro momento, o preço do pacote nos assustou. No entanto, restou justificado assim que analisamos tudo o que era oferecido: transfer de ida e volta de Manaus, 3 refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar), suíte aconchegante e todos os passeios pela região.
Neste post, vou tentar, em breves palavras, relatar como foi a nossa hospedagem e, também, descrever os encantos dessa terra linda e rica.      

SUÍTE
Nós ficamos numa suíte de padrão “comfort”. Ela era bem ampla, o que permitiu uma tranquila acomodação da nossa bagagem e a livre circulação pelo recinto. A decoração rústica era muito charmosa e composta por elementos do artesanato local, resultando num ambiente agradável, silencioso e zen.
Foi fácil perceber que tudo foi elaborado com muito zelo, cuidado e atenção.

     
O quarto oferece ao hóspede o necessário para uma cômoda estadia: frigobar retrô da Brastemp recheado de bebidas e guloseimas; arara para acomodação das roupas; escrivaninha e cadeira para trabalho ou estudo; mesinha de centro e pufes...


...cama em tamanho king-size, com colchão, travesseiros e lençóis macios e confortáveis...


...varanda equipada com rede, mesa e cadeiras; chuveiro, com excelente vazão de água, integrado ao quarto; área do sanitário isolada...


...produtos da Natura com fragrância de frutos regionais.   


Como a finalidade é relaxar e curtir a natureza, não há televisão na suíte. E a internet só está disponível no hall do hotel, o que permite uma rápida conferência de e-mails e redes sociais.
Outros hóspedes nos contaram que precisaram matar uma aranha pequenina ou um outro inseto qualquer no quarto, porém, nós não tivemos nenhum contratempo desta espécie. Numa das vezes em que tomei banho, pelo vidro que separa o banheiro da área externa do quarto, avistei a sombra de um sapinho, mas, para a minha sorte, ele estava do lado de fora :o)

PASSEIOS
Nossa viagem ocorreu no período da cheia. Nesta época, a maior parte das ilhas fluviais do Arquipélago de Anavilhanas são tomadas pela água, formando compridos corredores de navegação.
Utilizamos voadeiras (barcos velozes) em quase todos os passeios, exceto no city tour pela cidade de Novo Airão. E era uma delícia ir curtindo a beleza quase intocada da Floresta Amazônica com um vento fresco e puro batendo no rosto. Naqueles momentos, a sensação que eu tinha era que a vida tinha dado um “stop”, que eu não precisava me preocupar em preparar o almoço ou em ir trabalhar, a única coisa que eu tinha para fazer era curtir o momento, a simplicidade da vida, esvaziar a mente ou refletir sobre qualquer coisa que passasse pela minha cabeça. Eu poderia não ter feito trilha, não ter visto os botos ou ouvido os pássaros, mas só estas navegações já teriam valido a viagem.


No primeiro dia, chegamos ao hotel perto da hora do almoço. Fizemos o check-in e um atencioso funcionário nos introduziu à filosofia e à arquitetura do lodge, bem como explicou o funcionamento do restaurante e dos passeios.
Após o almoço, seguimos para um city tour pela cidade de Novo Airão, que é bem pequenina. Conhecemos a estrutura simplória do porto, visitamos lojas de artesanato e produtos indígenas, e exploramos a Fundação Almerinda Malaquias, que utiliza restos de madeira doados para ensinar marcenaria aos adolescentes da região e fabricar pequenos móveis e objetos, gerando uma renda para comunidade local.
  



Ao cair da noite, acompanhados pelo Sr. Antenor e pelo Marcos, saímos para fazer a focagem de jacaré. No breu da noite, na pequena voadeira percorrendo o Rio Negro, iluminados apenas por um spot de luz ligado ao motor do barco, senti, literalmente, a minha pequenez neste imenso universo e tive a minha coragem colocada à flor da pele.
Com o Marcos pilotando o barco, o Sr. Antenor ficou na proa, com os olhinhos atentos à procura dos jacarés. Primeiramente, ele pegou um filhotinho, que parecia um pouco maior do que uma lagartixa.


Depois de uma tentativa frustrada, a voadeira encostou nas árvores e o Sr. Antenor, confiante, desceu falando: “Marcos, se precisar, eu grito para que você vá me ajudar!”. O auxílio foi necessário e eu e o Daniel fomos “largados” no barco. Com os olhos abertos, mal enxergávamos a nós mesmos. Ouvíamos o barulho da floresta, que se enche de vida com o calar da noite, e eu pensava: “Meu Deus, o que foi que eu inventei? Onde vim parar? Se os guias não voltarem, o que iremos fazer? Ainda que consigamos ligar o barco, não saberemos por onde começar: direita ou esquerda, para frente ou para trás”. E um misto de sensações começou a se revezar: curiosidade, excitação e medo.
Vimos uma luz e ouvimos um barulho vindo em nossa direção, reconhecemos as silhuetas do Marcos e do Sr. Antenor segurando algo, dessa vez, bem maior. O tamanho do jacaré devia ser excepcional até mesmo para eles, porque o Marcos também quis registrar o momento (rsrsrs).



Depois de sentirmos a couraça escamosa do jacaré e tiramos umas fotos, tudo bem rapidinho, o réptil foi devolvido em segurança e intacto ao seu habitat natural.
No segundo dia, o Marcos nos guiou por uma trilha de uma hora e meia pela Reserva Ecológica de Madadá, aonde tivemos uma aula sobre noções de sobrevivência na selva e apreciamos as Grutas de Madadá.




Enquanto explorávamos a Floresta Amazônica, o Sr. Antenor preparava o nosso almoço: tambaqui assado na brasa. Uma delícia!



Após o almoço, pudemos contemplar o Arquipélago de Anavilhanas, visitamos uma árvore gigante da espécime Tanimbuca, praticamos pesca esportiva de piranhas e tomamos banho no Rio Negro, que tem uma cor avermelhada.


No último dia, acordamos logo cedo para contemplar o nascer do sol no Arquipélago de Anavilhanas.





Após o café da manhã, fomos interagir com os botos cor-de-rosa no Flutuante da Marilda.




Por fim, no nosso último passeio pelo Estado do Amazonas, fizemos uma trilha aquática pelos igapós, aonde pudemos desfrutar do voo da garça branca amazônica.


   
Tem como não se apaixonar e se encantar por esse lugar?!?!


Todos os passeios foram presididos pelos funcionários Antenor e Marcos. O Sr. Antenor é uma verdadeira joia rara, apaixonado pelo que faz, simpático, prestativo e responsável. Conhece como ninguém a região e se sente feliz em exibi-la aos turistas. E o Marcos é um jovem esforçado, cuidadoso e com uma desenvoltura exemplar para ensinar sobre a Floresta e sua biodiversidade.  Adoramos ter sido guiados pelos dois.

RESTAURANTE CAMUCAMU
A hora das refeições era um espetáculo à parte.
Utilizando o salão do Restaurante CamuCamu, o café da manhã é servido direto na mesa. Nada de precisar se levantar para selecionar a comida do buffet. E opções é o que não falta: frutas, queijos, frios, pães, doces, geleias, café, leite e sucos.




No almoço e no jantar, os pratos são escolhidos do cardápio do Restaurante CamuCamu, que foi elaborado pela Chef Debora Shornik.
Agregando os conhecimentos da gastronomia contemporânea com os ingredientes do Amazonas, a Chef desenvolveu pratos leves e que exalam muito sabor. Embora enxuto, o cardápio é bem equilibrado, com deliciosas opções de peixes, carnes, frangos, massas e pratos vegetarianos.    
O serviço é à la carte. Por isso, eles aconselham que os hóspedes, com um pouco de antecedência, agendem o horário da refeição e já escolham os pratos. Deste modo, na hora programada, assim que os comensais se sentarem, as comidas já começarão a desfilarem pela mesa.
Na diária, estão incluídos uma entrada, um prato principal e uma sobremesa por pessoa. As bebidas não estão contempladas; pediu, tem que pagar.
Por mais que tenha gostado do que fui escolhendo, fui pedindo coisas diferentes a cada nova refeição, sem repetições. O que permitiu que eu desbravasse boa parte do menu. É lógico que um prato ou outro acabou se adequando melhor ao meu paladar, mas, sem medo, afirmo que todos estavam muito bem executados.
O que mais me encantou foram as saladas. Nada de “Caeser”, “Caprese” ou qualquer outra de conhecimento global. Todas desenvolvidas pela Chef, que, com perfeição, soube harmonizar os ingredientes e equilibrar o sabor e frescor das criações.
Abaixo, descrevo e ponho as fotos das saladas que provei.
Desde já, peço desculpas, pois a iluminação do local prejudicou um “pouquinho” a qualidade de algumas fotos.
Salada de Beterraba com balsâmico e mix de folhas e ervas:


Salada de Pepino com lentilha, ervas, iogurte e gergelim:


Salada Verde com tomates, ovo, cenouras marinadas e semente de girassol:


Salada de Trigo com cebola roxa, tomate, abacate, castanhas e ervas.


Eu sou uma pessoa que, salvo raras exceções, não gosta e, por consequência, não come peixe. Eu amo a carapeba e a agulhinha fritas da minha terra (Alagoas), curto filé de tilápia, bacalhau e salmão. Todavia, odeio pescado em posta e com gosto ou cheiro de maresia. Entretanto, como os frutos de água doce são a base da gastronomia amazonense, viajei de mente aberta, decidida a mergulhar de cabeça nos peixes que atravessassem o meu caminho. E o resultado não poderia ser mais surpreendente: meu paladar foi agraciado com o que encontrou. Peixes de carne clara e macia, com um sabor suave e agradável.
No Restaurante CamuCamu, provei dois pratos de peixe. Pirarucu fresco grelhado com batata doce e salsa de leite de coco e gengibre. Uma combinação leve e interessante.


O segundo peixe foi Surubim ao creme de castanhas com purê rústico de cenouras e favas verdes. Um prato pastoso, mas delicioso.


Estou longe de ser uma criaturinha saudável e só refeições leves, com saladas e peixes, começaram a incomodar as minhas lombrigas. Por isso, numa noite, resolvi me jogar num Hambúrguer de fraldinha e alcatra com cebolas assadas, batatas fritas e aioli. À primeira vista, o sanduíche pareceu pequeno e o pão massudo. Mas o tamanho foi suficiente, mesmo para o meu marido, que resolveu fazer o mesmo pedido que eu. E o pão era macio e saboroso.


Na última refeição, o escolhido foi o bom e velho Filé Mignon, acompanhado de batatas e cebolas grelhadas com molho de tucupi e mostarda.


Só consegui desfrutar das sobremesas nos dias em que fui de peixe como prato principal.
Provei a intitulada “Oreo”, combinação de biscoito, ganache de chocolate e compota artesanal de cupuaçu.


O tradicional “Pudim de Leite” ganhou um toque especial e foi servido com castanhas e creme de laranja e Contreau.


Se a apresentação dos pratos enche os olhos e os sabores explodem na boca, o atendimento toca o nosso coração. Jovens da cidade, que foram treinados e servem com cuidado, cordialidade e simpatia. O Jackson é centrado, focado, muito atencioso e inteligente. A Bia parece meio calada, mas se você der abertura, se revela uma moça simpática e conversadeira, mas, importante frisar, sabendo o horário de deixar os hóspedes à vontade e, também, de voltar ao trabalho. E a Adriele é mais acanhada e envergonhada, no entanto, muito prestativa.
Adoramos ver o empenho destes jovens, que parecem ter amor pelo que fazem e uma grande gratidão ao Mirante do Gavião, que trouxe novas oportunidades de emprego para a comunidade local.  

IMPRESSÕES FINAIS SOBRE O HOTEL
Era inevitável, ao retratar este trecho da viagem, descrever a nossa experiência no Mirante do Gavião, pois foi lá, no Restaurante CamuCamu, que realizamos todas as nossas refeições e foi a equipe de guias dele quem promoveu todos os nossos passeios.
A arquitetura do lodge é deslumbrante, mas a estrutura de lazer se resume a uma piscina. Não há sauna, academia, spa, nem quadras esportivas. No entanto, você não sentirá falta de nada disso, já que os passeios pela região, em geral, têm uma longa duração. A ideia do hotel é, de fato, servir de ponto de apoio para refeições e acomodação, porque o lazer será oferecido pela natureza. E, caso você não queira voltar para o quarto após a excursão, terá toda a imensidão do Rio Negro e a piscina a sua disposição.
O hotel oferece tudo que o hóspede precisa: uma bela atmosfera, suítes acolhedoras, uma equipe preparada e cordial, e passeios maravilhosos.
O que posso dizer é que foi uma breve, mas doce estadia, que, com toda certeza, deixou um gostinho de quero mais. Foram dias de charme e conforto na selva. Por isso, recomendo de olhos fechados.

CONCLUSÃO FINAL DA SÉRIE CONHECENDO O AMAZONAS
Essa, certamente, foi uma viagem que deixou muitas marcas. Saí da minha zona de conforto e fui me aventurar num universo completamente desconhecido, cheio de verde, água, bichos e zumbidos. Era impossível não ser tocada por tanta beleza e grandiosidade, que me instigou e intrigou.
Quando fomos conhecer os botos, uma turista (hospedada em outro lugar) reclamava para o seu guia que o hotel não deveria fazer esse passeio, que as pessoas vão até lá para conhecer a natureza no seu estado natural, com o mínimo de interferência humana. E eu pensei: “Os botos são fofinhos e eu adorei vê-los de perto e sentir seu corpo gelatinoso, mas será que essa senhora não tem razão? Será que fornecer alimento não faz com que eles se acomodem e deixem de exercer o seu papel na cadeia alimentar?”.
Fui para o Amazonas com um pensamento, que era: “Que pena que nem todos podem e, na verdade, a maioria não se interessa ou sente prazer em passeios como esse, de ecoturismo”. Mas saí de lá com outro: “Ainda bem que é um seleto grupo de pessoas que curtem a natura e se aventuram por ela. Já pensou o quanto seria prejudicial para a Floresta Amazônica (e tantos outros lugares) se todos quisessem explorá-la? Aumentando o número de hotéis na região e o de barcos nos rios?”.
Assisti a um documentário muito interessante no Netflix, chamado “Amazônia Eterna”. E um dos pesquisadores esclarecia: “Tem que ser atribuído um valor econômico a floresta em pé, porque sem esse valor, a floresta vale mais com suas árvores desmatadas”. É triste imaginar que a ganância humana é capaz de destruir algo essência à vida no planeta. Porém, essa é a realidade! As coisas parecem ter preço e não valor.
Torço por mais oportunidades de desbravamento deste Brasilzão. Quero conhecer o meu País, com toda a sua diversidade geográfica e cultura. Quero difundir nossas tradições. E, quem saber, ajudar as pessoas a compreendê-lo melhor, respeitá-lo e preservá-lo, para que outras gerações possam conhecê-lo do jeito que ele é.  


INFORMAÇÕES:
Mirante do Gavião Amazon Lodge
www.mirantedogaviao.com.br/pt-br/
Endereço: Rua Francisco Cardoso, s/n, Nossa Senhora Auxiliadora, Novo Airão – Amazonas
Fone: +55 92 3365-1644 / 99503-8634


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