sexta-feira, 24 de junho de 2016

Conhecendo o Amazonas - Parte 2/3: Restaurante Banzeiro

Na contracapa do livro "Diário da Cozinheira: viagens, memórias e receitas", da Chef Carla Pernambuco, Ricardo Freire escreve: "Quer você queira ou não, toda viagem é gastronômica. Você pode cabular todos os museus e se recusar a visitar as atrações turísticas, mas necessariamente vai fazer três refeições por dia. Sorte de quem não desperdiça suas viagens entre pizzarias e fast foods. Porque é na comida que um lugar se revela por inteiro. A chave para entender uma cultura é fazer uma incursão à sua mesa". E, como eu não consigo discordar destas palavras, estando em Manaus, precisava conhecer o restaurante Banzeiro, que proporciona uma deliciosa viagem pela cultura e pelos sabores da Amazônia.
Eu sou nordestina, moro há 8 anos em São Paulo, conheço pouquíssimo da região Sul do País e nada do Centro-Oeste, mas, ainda assim, vou me arriscar a dizer que o Norte representa o que há de mais diferente e exótico no Brasil. E eu explico o porquê.
A região é quase que totalmente tomada pela Floresta Amazônica e cortada pela maior bacia hidrográfica do planeta, a Amazônica. Com 25 mil km de rios navegáveis e uma infraestrutra escassa de rodovias e ferrovias, a navegação se tornou o principal meio de locomoção. Por isso, como já falei no post passado, vemos postos de gasolina instalados em barcos, no meio dos rios. E vemos, também, lojas de utilidades domésticas, ao estilo Casas Bahia, exibindo em suas vitrines: geladeiras, fogões, camas, sofás e motores de barco. Percebe-se, assim, o quanto a geografia do lugar molda a vida dos moradores, não só em termos de locomoção, mas também de alimentação.
"Isolados" do resto do Brasil e compartilhando de conhecimentos indígenas, utilizam as matérias-primas locais para desenvolver sua culinária à base de peixes de água doce (pirarucu, surubim e tambaqui), mandioca e frutas (cupuaçu, tucumã, guaraná e açaí).
No restaurante Banzeiro, comandado pelo Chef Felipe Schaedler, o Amazonas é formidavelmente bem representado. A começar pelo nome. A palavra banzeiro significa sucessão de ondas provocadas por um barco em movimento. E o meio de transporte mais comum na região ganha destaque na decoração do estabelecimento, que tem vários remos separando o hall de entrada do salão e uma canoa fixada em uma de suas paredes.


Como nós ficamos no primeiro salão, não conheci a parte interna da casa, mas, por fotos, vi que a ode ao Amazonas continua restaurante à dentro, com fotos e exemplares de produtos e utensílios locais dispostos ao longo da sua extensão.
Dá para ver que, embora catarinense, foi lá que o Chef se encontrou e, encantado pela riqueza e diversidade daquela terra, a explora, respeita e difundi tão bem.
Com as passagens compradas e os hotéis reservados, a minha primeira ação foi entrar em contato com o restaurante para agendar a minha visita. O que foi feito com 2 meses e 20 dias de antecedência. No entanto, quando chegamos lá, o meu nome não constava na lista. Fiquei um tanto chateada com o desleixo da responsável pelas reservas, afinal, trocamos uns 4 ou 5 e-mails e ela havia confirmado o agendamento. No entanto, como havia várias mesas disponíveis, decidi que está "pedra" no meio do caminho não iria atrapalhar a minha noite.
OBS.: a garçonete me informou que o horário do almoço é o mais concorrido. Então, se quiser ir fazer esta refeição sem precisar enfrentar uma lista de espera, faça uma reserva através do site (prometo que vou torcer para a sua reserva dar certo! Rsrsrs).
Pelo site, eu já tinha dado uma zapeada no cardápio e decidido provar o "caldinho de tucupi, jambu e camarão fresco" (individual - R$ 30,00), pois, embora já tenha sentido a dormência na língua ocasionada pelo jambu, não faço ideia de que gosto tem o tucupi (sumo extraído da raiz da mandioca brava). Todavia, assim que nos instalamos, a garçonete serviu a cortesia do Chef: "caldinho de tambaqui", ralo, mas bem temperado com ervas aromáticas e farelos de peixe. E meu plano inicial foi por água abaixo, visto que, no calor de Manuas, a última coisa que eu faria seria passar a noite tomando caldo quente (rsrsrs).


Para beber, mesmo acreditando que seria bem enjoativo, arrisquei no drink "Coco Banzeiro" (R$ 20,00), mistura de creme de leite, leite condensado, leite de coco, gelo e vodka. E que surpresa maravilhosa!!! Uma harmonização perfeita dos ingredientes, com sabor predominante do leite de coco, que  camuflou muito bem o creme de leite e o leite condensado.


Na seção de entradas, o primeiro exemplar exibido é "formiga saúva e espuma de mandioquinha - servido em colher individual" (R$ 16,00). Porém, ainda não foi dessa vez que topei comer inseto. Quem sabe um dia, quando eu for ao D.O.M, que a oferece no seu menu degustação, a coragem floresça...
Nossa entradinha escolhida foi a porção de "camarão empanado ao Uarini" (R$ 66,00). Uarini é a farinha que sobra na peneira. Por ter o grão mais grosso que o normal, também é chamada de ova ou ovinha. Lembra flocos de tapioca. O camarão empanado nesta farinha ficou delicioso, com a casquinha bem sequinha e crocância extra. Foi servido com um molhinho rosé bem suave, que parecia ter catupiry na composição.


Dentre os pratos preferidos do Banzeiro (segundo informação constante do cardápio), todos para duas pessoas, escolhemos o "Lombo de Tambaqui Premium" (R$ 120,00), lombo de tambaqui inteiro, assado na parrilla e finalizado com pimenta de cheiro, acompanhado de cebola assada, farofa de Uarini com bacon de pirarucu e arroz branco.
O peixe é levado à mesa sobre um pedaço de folha de bananeira, dispostos numa bonita tábua de madeira, junto com as rodelas de cebola. E a farofa e o arroz são servidos em panelinhas de alumínio.


Mas não é o comensal quem monta o seu prato e, sim, o garçom, que divide o peixe e graciosamente dispõe um pedaço do pescado, a cebola, a farofa e o arroz no refratário, fica até parecendo que o prato já veio arrumado da cozinha.
O lombo do tambaqui tem uma carne extremamente macia e um sabor muito suave. Eu, que não gosto muito de peixe, amei todos os que comi no Amazonas! Talvez a água doce deixe o sabor mais leve e agradável ao meu paladar. A farofa estava tão saborosa, que me recusei a tocar no arroz. Já o Daniel achou os grãos da farinha Uarini muito duros e incômodos de mastigar. A cebola estava do jeitinho que eu adoro: adocicada e se desmanchando na boca!


Uma fruta também muito comum na Amazônia é a banana, que protagonizou a nossa sobremesa.
No menu, além do "Mousse de cupuaçu com castanha" (R$ 14,00), do "Petit Gateau de cupuaçu" (R$ 18,00) e do "Brownie de macaxeira com sorvete de tapioca" (R$ 16,00), havia "Banana do Banzeiro" (R$ 15,00) - bolo de banana com creme branco e bananas cozidas em calda de açúcar - e "Pé de Moleque de banana com calda de cumaru" (R$ 17,00).
Contudo, a nossa escolha recaiu sobre a "Banana de forno" (R$ 18,00), banana frita em cubos, creme pâtisserie com coco, canela e crosta crocante de açúcar, que me lembrou um pouco a "cartola" nordestina. Os cubinhos de banana fritos combinaram muito bem com a cremosa pasta de coco e canela. E o açúcar maçaricado, certamente, funcionou como um excelente toque final. Composição simples e deliciosa.


No Banzeiro, o Chef Felipe Schaedler, fiel aos sabores da Amazônia, pratica uma alta gastronomia que respeita os ingredientes locais, sua textura e cores. Lá, há comida de verdade, autêntica; com pequenas transformações, como no caso do bacon de pirarucu; mas nada de utilização exacerbada dos ensinamentos da gastronomia molecular. Você sente a maciez do peixe, a crocância da farinha Uarini e o frescor do camarão e da banana.
Comida bem preparada e servida com primor, por uma equipe de garçons perfeitamente treinada.
Com certeza, nenhuma visita a Manaus será completa sem um almoço ou um jantar no Bazeiro, que, merecidamente, já entrou para lista de atrações turísticas da cidade.

INFORMAÇÕES:
Banzeiro Comida Amazônica
Rua Libertador, 102, Nossa Senhora das Graças
Manaus – AM

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Conhecendo o Amazonas – Parte 1/3: Manaus ("Encontro das Águas" e "Centro Histórico")

Ninguém precisa puxar a minha orelha, não esqueci que este blog é sobre gastronomia. No entanto, do mesmo jeito que meto a minha colher no tacho alheio, já que não sou nenhuma expert na arte de cozinhar, vou, mais uma vez, enveredar pelos lados do turismo e tentar descrever como foi a minha primeira visita ao Norte do País.
No feriado de Corpus Christi, eu e o Daniel resolvemos fazer uma viagem diferente e partimos para desbravar um pedacinho da Floresta Amazônica.
Antes de chegarmos à selva, passamos um dia em Manaus para fazer o passeio do Encontro das Águas, conhecer o Centro Histórico e degustarmos as iguarias do restaurante Banzeiro. E, neste primeiro post, vou falar sobre nosso passeio turístico em Manaus.
OBS.: O restaurante Banzeiro será retratado na segunda parte da série “Conhecendo o Amazonas”.

ENCONTRO DAS ÁGUAS
O fenômeno natural conhecido como “Encontro das Águas” é a confluência (junção) entre os Rios Negro e Solimões, cujas águas, negras e barrentas respectivamente, não se misturam em razão das diferenças de temperatura, densidade e velocidade.
O Rio Negro nasce na Colômbia, o Solimões no Peru e se encontram em Manaus, aonde correm paralelamente por uma extensão de mais de 6km.
As agências de turismo locais oferecem uma excursão padrão, que tem início às 09:00 e termina às 15:30, englobando o passeio, em barcos grandes, até o Encontro das Águas, almoço em restaurante flutuante e visita ao Parque Ecológico Janauary.
Como só tínhamos um dia em Manaus, se optássemos pela excursão regular, não conseguiríamos conhecer o Centro Histórico. Por isso, escolhemos um tour privativo, cujo passeio completo, sem almoço, durou 3 horas.
Do Porto de Manaus, partimos, num barco rápido, em direção ao Parque Ecológico Janauary passando, inicialmente, pelo igapó, vegetação submersa típica da amazônica. Nesta região de mata fechada, o barco diminui a velocidade e o turista pode desfrutar de toda beleza e tranquilidade da Floresta Amazônica. Sentei-me na proa e entrei em transe, sem conversar com ninguém, fui curtindo o suave deslizar do barco sobre as águas e o vento fresco e puro acariciando o meu rosto e desarrumando o meu cabelo, ouvindo o barulho da natureza pulsante, com seus animais e suas correntezas, e apreciando a água espelhada do Rio Negro refletir toda a beleza da floresta. A sensação de paz e liberdade foi indescritível. Poderia ficar ali para sempre!




Depois, paramos na área dos restaurantes flutuantes do Parque Ecológico Janauary para ver as vitórias-régias. O que nos rendeu, também, um momento de fofura com os macacos-de-cheiro.





Próximo destino: o Encontro das Águas.
Ainda que haja uma explicação científica, é muito louco imaginar que uma mesma substância, a água, possua espécies que não se misturam mesmo estando em contato constante uma com a outra. No tour privativo, como os barcos são pequenos e baixos, é possível pôr a mão nas águas, durante a travessia, e sentir a diferença de temperatura. O Rio Negro com água quente e o Rio Solimões com água gelada.



O passeio é simplesmente deslumbrante e imperdível! E faz a gente perceber o quanto a vida dos amazonenses gira em torno dos seus rios, que fornecem alimento e servem de principal via de deslocamento.
Sem infraestrutura viária e com rios pelos quatro cantos do Estado, ao invés de ônibus, as pessoas são transportadas de uma cidade a outra em embarcações, que chegam a fazer viagens longas (de vários dias) com os passageiros deitados em redes. 



Fiquei impressionada com a quantidade de postos de gasolina flutuantes que vi, inclusive com lojinhas de conveniência.




Impossível não se admirar com a imensidão e diversidade do nosso País, que tem povos com culturas e costumes tão distintos. Foi muito interessante perceber como as pessoas acabam se adaptando a realidade geográfica que as cerca.
  
CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS
Porta de entrada para a maior floresta tropical do planeta, Manaus oferece ao visitante uma extensa e sortida lista de atrações turísticas. E, ainda que o ecoturismo se destaque, a capital do Estado do Amazonas oferece, em seu Centro Histórico, um rico e belo patrimônio arquitetônico, que não pode ficar de fora da sua programação.
Pena que o tempo tenha sido curto e alguns contratempos, como um corte e bolhas nos meus pés, além do calor insuportável (Gente, vocês não têm noção do quanto essa região é quente!), tenham nos impedido de percorrer todos os prédios históricos.  Todavia, ainda assim, pudemos apreciar alguns exemplares do período áureo do Ciclo da Borracha no Brasil.
Começamos pelo Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Localizada nas margens do Rio Negro, em frente ao Porto de Manaus, esta bonita construção de ferro, em estilo Art Nouveau, foi inaugurada em 1883. Em seus galpões, reúne barraquinhas que comercializam artesanato local, alimentos (carnes, peixes, frutas e legumes), especiarias e plantas medicinais, bem como lanchonetes e restaurantes. Além de souvenirs, é possível comprar (ou só observar!) uns itens bem curiosos como o sabonete de banha de tartaruga e banha de cobra sucuri.







Nossa próxima parada foi o Palacete Provincial, antigo Quartel da Polícia Militar, que integra o conjunto arquitetônico da Praça Heliodoro Balbi e abriga 5 museus: (1) Museu de Numismática - com um acervo de 8 mil moedas; (2) Museu da Imagem e do Som do Amazonas; (3) Museu de Tiradentes - que homenageia os bombeiros e policiais do Estado; (4) Museu de Arqueologia; e (5) Pinacoteca do Estado - com exibição de quadros, fotos e gravuras de artistas locais.
Como era feriado, o complexo estava fechado. Então, só conseguimos apreciar a sua fachada e a Praça Heliodoro Balbi



Já que nenhuma viagem é completa sem que visitemos um templo religioso, lá fomos nós até a Catedral Metropolitana de Manaus, também conhecida como Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. De fachada simples, pintada de branco e com frisos amarelos, a Catedral exibe um rico interior, com muito mármore, imagens de santos e afrescos.




O nosso tour terminou em grande estilo no Teatro Amazonas. Símbolo de todo o apogeu do Ciclo da Borracha, o teatro tem uma arquitetura exuberante, de encher os olhos. Abrangendo um quarteirão inteiro, a construção exibe toda a sua imponência aos que por lá passam.




O ingresso para visita guiada custa R$ 20,00, porém, meus pés cortados e cheios de bolhas só queriam descansar, então, fomos almoçar no restaurante “Tambaqui de Banda”, que fica em frente à lateral do teatro.
O restaurante serve pratos regionais, tendo como destaque a banda do tambaqui assada na brasa, que foi a nossa pedida e estava D-E-L-I-C-I-O-S-A. Carne branca e macia, bem temperada e com a crosta sequinha. Comi todo o lombo, enquanto o Daniel se acabou nas costelas. Para acompanhar, baião de dois, farofa e vinagrete. A banda média, que serve 2 pessoas, custou R$ 54,90.




O Centro Histórico fica numa região de comércio popular. Em Maceió, seria comparado ao Comércio; em São Paulo, à Rua 25 de Março. Havia muitos ambulantes e pessoas circulando pelas ruas. Contudo, não tivemos nenhum contratempo. Passeamos tranquilamente, inclusive deixando o celular à mostra e utilizando-o para tirar fotos.
Não foi dessa vez que conseguimos visitar, mas já estão anotados para uma próxima viagem (Sim, queremos voltar! E, de preferência, no período da seca, para vermos a outra face da Floresta Amazônica): (a) “Bosque da Ciência do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)”, que difunde conhecimentos sobre a Amazônia; (b) “Complexo Turístico Ponta Negra” - a região da Praia de Ponta Negra foi revitalizada para, durante a Copa de 2014, servir de palco para a FIFA Fun Fest, o que resultou num verdadeiro complexo de lazer, composto por calçadão, restaurantes de culinária regional, jardins, praça, mirante e quadras poliesportivas; (c) “Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva”, com cerca de 300 animais da fauna amazônica; e (d) todo o “Complexo Cultural Largo de São Sebastião”, que é integrado pelo Teatro Amazonas, Igreja de São Sebastião, Núcleo de Artes Plásticas do Centro Cultural Cláudio Santoro, Casa J. G. Araújo, Casa do Restauro, Casa Ivete Ibiapina e Casa das Artes.
  

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Outros destinos que, por serem pouco explorados pelos brasileiros, também ganharam posts:
         Córdoba, na Argentina;
         El Calafate, na Argentina.